13/03/12

Autopsicografia


Fernando Pessoa





O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.






19/01/12

Vai ano, chega ano e a merda é a mesma






Vai ano, chega ano. Ou será melhor que diga: sai ano, entra ano? Sai, entra, vai, chega...
Se entra, se chega...que mudança me traz?

Sejamos sinceros!
Sejamos honestos e com os pés bem assentes no chão! De que vale a nós mortais marcarmos as viragens de ano? O que nos acrescenta ou retira à vida, ao nosso dia-a-dia, à nossa luta diária pela sobrevivência, que marquemos dia e hora do fim de um ano e começo de outro?

Até nem nos importaríamos, verdade seja dita, que o dito ano velho, aquele que vai ou foi, ou saiu, ou foi para onde um raio o pudesse partir em pedaços! nem nos importaríamos que levasse com ele tudo de ruim, tudo de menor valor na tabela das mediocridades desta nossa vida... E que levasse ainda as nossas lembranças, deixando nossa mente e nossa alma limpinhas que nem bumbum de bebé depois de fralda trocada.

Mas, facto é, que isso não acontece e, não há em parte alguma do mundo registo de que alguma vez tenha acontecido a alguém. Mesmo àqueles que às quatro da tarde do dia 1 de Janeiro acordam a jurar que não lembram nadica de nada do tremendo pileque que tomaram na noite de passagem de ano.
Pois não!
Podem não lembrar dos desvarios da bebedeira, mas que não apagam da memória as dores e os registos medíocres da vida durante esse ano, ai! que isso não apagam mesmo.

E por que razão estar com a lenga-lenga de prometer a si mesmo, a Deus e ao mundo que é ano novo, é vida nova, se... vai chegar ao fim do ano que agora entra, e virá a constatação de que a merda foi a mesma?
A minha vizinha acredita, pois é mulher de fé!
"Vale a intenção! Ano Novo é um pretexto para uma mudança!"
Sei...........