30/07/14

Há vidas assim


Há vidas que seguem numa linha recta, desde seu início até ao fim. 
E não é por ansiarem a monotonia. Nem por serem vidas estagnadas. Mas sim, porque basicamente, conseguem ser vidas dentro do que se espera que seja a normalidade duma vida, para além do nascer, crescer, multiplicar-se e morrer.
São vidas que correm bem, que fluem com naturalidade, são como um rio manso na primavera. São poucas, essas, mas as há.

Há vidas que fazem algumas curvas, não se limitam à normalidade rectilínea das primeiras. 
Essas já provocam alguns percalços aos que as vivem, mas nada que não se possa controlar, desde que se esteja atento ao percurso.
Há até os aficionados do género, que consideram imprescindível essa sinuosidade para que a vida seja estimulante, encarando as superações de cada curva orgulhosamente, como se de uma prova se tratasse. Encontrando aí, a fundamental razão de viver.

E há aquelas vidas que parecem ter verdadeira aversão à linha rectilínea. Seguem em curvas e contra-curvas, e ainda  arriscam, pelo meio, por subidas íngremes, que nem louco alpinista para depois, sem aviso prévio, descer a pique por encostas tortuosas. Vidas duras.
Quem as vive traz sempre joelhos e mãos em sangue, corações destroçados, cabeças torturadas, almas estropiadas.
As superações não trazem a glória ansiada pelos aventureiros, mas sim, mais peso às próprias costas, pois que outros não o podem carregar.
São vidas que não aceitam desvios nem inversão de marcha. Vidas desgraçadas, em que o riso é raro, em que a paz escasseia. O descontrole da alma aumenta na proporção directa em relação ao tamanho de cada curva percorrida.
Nem todos alcançam o fim do caminho previsto, sucumbem antes, por fraqueza do corpo ou da alma.
Outros anseiam pelo fim, acreditando aí, ir encontrar o descanso.
E há os poucos, discípulos de Zenão, que avançam estoicamente, a fim de chegar com honra ao fim de sua linha da vida. São heróis sem rosto, de quem ninguém sabe, de quem ninguém fala.



20/07/14

Acredito sinceramente que o sexo pode ser lírico






Amor e atracção entre duas pessoas não passam de reacção química mais do que comprovada.
E quando essa atracção é intensa demais, provocando uma reacção física, falo de Física, de reacções eléctricas: o extraordinário acontece.
Não percebo patavina de Física (que me perdoe o magnífico Professor que tive), mas entendo quando se fala daquela atracção que dá choque e que nos altera toda a físico-química.
Conheço aquela sensação que chega quando a outra mão ainda está a intentar se aproximar da nossa, e já a pele da nossa própria mão começa a electrizar-se, antecipando o toque... E ao mais leve roçar dá-se um choque real e verdadeiro.
Isso é atracção da melhor qualidade...

Triste de quem morre sem nunca ter experimentado esse prazer na própria pele.
Triste de quem pensa que viveu a melhor experiência, mil experiências, porque transou de mil e uma maneiras; nas posições mais escaganifobéticas; teve o melhor homem do pedaço; pescou as meninas que lhe passaram à frente; mas, não teve na pele da sua mão, essa descarga eléctrica de que falo.

Falo do melhor que há.
É a génese do sexo lírico.
E quando essas duas mãos se juntam, e tocam no corpo do outro, aí então, é abrir portas ao paraíso, minha gente!
E todo o resto passa a ser poema do mais belo que há.
Porque é vivido com beleza, com a intensidade da emoção pura.
Uma emoção que está acima da nossa própria capacidade de percepção, mas que é maravilhosa no sentir...



12/07/14

As flores mais belas são para ti



Quisera um dia
as mais belas flores
para tas ofertar a ti, meu amor.
E as mais belas flores
que encontrava     
foram tuas, amor querido.
Queria eu,
na beleza das flores,
mostrar-te o quanto
era grande o meu amor.
E o quanto amava eu
o teu sorriso.

Quisera um dia
conseguir
combinar o colorido das flores
com a cor desse teu sorriso
ao recebê-las.
Hoje,
procuro as flores mais belas
para tas levar.
Mas já não me estendes as mãos,
naquela alegria
que combinava tão bem
com as flores garridas.
Hoje,
procuro
as flores mais belas
para depositar na pedra quente,
rescaldada do sol,
que guarda
o que restou
de ti.

E,
continuo à procura
das flores mais belas.

E as flores mais belas
que encontro,
embora
continue eu
a dizer
que são para ti,
talvez não sejam
mais que um colmatar
a falta que me fazes.
Talvez não passem
duma insana forma
de te ter aqui.       





06/07/14

Tu e eu


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Vens devagarinho…
Insinuas-te num sussurro ao ouvido…
Trazes-me na língua
o delírio
que me percorre todo o corpo.
O bater
do teu coração no meu peito
faz o meu sangue
correr mais depressa
até à seda que se abre generosa para ti.
E quando tacteias nesta seda
em busca da foz
onde desaguar teu rio
é um prazer só!
E se me devastas
a floresta
onde me escondo,
eu gemo
dum gemer de só querer.
Depois,
quando, na escuridão,
encontras o caminho em mim,
me abres e preenches
o meu vazio.
É o troféu
que me trazes:
são os louros da glória!
E então,
derramas-te inteiro…
e te sinto esvaindo…
e aí,
tu não és mais tu
e eu não sou mais eu…
tu és o orvalho,
eu sou o jardim,
tu és o sol,
eu sou a luz.
Tu e eu
somos um gozo só.