04/09/14

Um despertar


Hoje acordei especialmente cedo. Cedíssimo dirão alguns, coisa de louca, dirão tantos outros, dos que me conhecem.
Tem as suas vantagens, que aqueles não sabem pois nunca testemunharam a beleza da aurora, que é aquele instante curto do tempo em que se começa a ter a impressão de avistar uma ténue luz para lá da escuridão da noite. Em escassos minutos, na impressão, vai se instalando a certeza de que o dia se espreguiça e vai acordar não tarda, mesmo que muitos o julguem ainda em sono profundo. E o céu se começa a pintar de nuances de vermelho e luz, cada vez mais e mais a demarcarem-se sobre o negro.
E aí, se estendermos os braços e espreguiçaaarmos o corpo conseguimos repartir com o sol esse alvorecer que é sempre único, embora se venha a repetir desde a origem dos tempos, muito antes de eu ser semente sequer. E continuará, para além de mim e de ti, muito depois de tu e eu partirmos, depois de virarmos pó, e serem pó, todos os que ainda estão por vir.
E mesmo que não haja quem se levante para o ver acordar, ainda assim, o sol erguer-se-á à mesma hora, todos os dias.

Pois foi assim que eu acordei.
Acordei com o sol.


Acordei com a cabeça cheia de problemas. Mas acordei. Já é uma bênção. 
Em vez de me agarrar aos meus próprios e urgentes problemas, que aguardam urgente resolução, agarrei-me aos textos de blogues. Alguns, li quase de fio a pavio. E deixei-me viajar.
Como é bom viajar pelas palavras.
Há quem viaje de terra em terra. Há quem viaje para outras praias. Eu viajei pelas palavras de outros. Bebi de seus poemas, para serenar minha própria alma, que de si anda sofrida e sedenta de gritar.
Mas não grito.
Hei-de sufocar o meu grito com a poesia alheia, porque a minha anda desesperada e se gritar poderá assustar.
Espero pelo seu serenar.
Há quem me sugira água benta. Eu prefiro a poesia.


PS: para os que quiserem arriscar uma emoção.