26/06/15

Você já recebeu um abraço hoje?




Muitos abraços a gente dá. E dá com gosto. Dá de coração aberto, tão aberto quanto os braços que estendemos no abraço.
Dá abraço carregado de carinho. Dá muitos!
Vezes há, em que a gente até dá os nossos braços, tão cansados, na intenção fervorosa de passar a força que está a faltar ao outro. É, ou não é?
E no cuidado de dar abraços a quem os pede, a quem deles precisa, e mesmo a quem diz que não os quer… acabamos por esquecer que também precisamos que nos dêem um abraço.
Porque se é bom dar, também é bom receber.
Principalmente, quando chega um dia em que a gente acorda com uma necessidade premente de entregar o coração desgastado nuns braços abertos que cuidem dele.

Há quanto tempo você não recebe um abraço todo feito de sentimento e, que faz o coração bater naquele compasso que só coração de criança conhece?
Há quanto tempo você não recebe um abraço com sabor de coisa boa, daqueles que cheiram a café quente pela manhã? Há quanto tempo você não recebe um abraço todo dado, apertado, sem vontade de se soltar dos seus braços?
Pois é…
A gente, que passa uma vida inteira a abraçar, também precisa de receber abraço.






Miguel Gameiro sabe pedir um abraço: 
"Dá-me um abraço que seja forte
E me conforte a cada canto
Não digas nada que o nada é tanto
(..)
Dá-me um abraço que me desperte
E me aperte sem me apertar
Que eu já estou perto, abre os teus braços"






14/06/15

O sol nasce para todos?








Quero ter os olhos
de quem não vê,
ter os ouvidos
de quem não ouve,
ter o coração
de quem não sente.

É bem melhor
não ver a chibata
nem o corpo que cai.
É bem melhor
não ouvir o grito da dor,
não ouvir o choro da fome,
não dar conta
do lancinante uivo da morte.
É bem melhor
não sentir a culpa,
não sentir
a incompetência do amor,
a hipocrisia da fraternidade,
a insensatez da fé,
a falência da honra.
É bem melhor não ter coração.

Dormir
e acordar.
Acreditar que o sol
nasce para todos.

http://www.stockvault.net/


A escravidão, a que ultraja a nossa História e, pensávamos já ter sido erradicada, convive connosco mais de perto do que julgamos.
Pratica-se o tráfico de seres a quem é negado o direito a ser gente, retirando-lhes o resto de dignidade que a vida lhes deixou. - Tráfico de seres humanos  aqui

 Seres que são explorados de forma brutal para o comércio sexual; para a indústria; para agricultura; para o que for preciso!
Sem saber, até podemos estar a contribuir para essa exploração de mão-de-obra escrava, quando, por exemplo, comemos. - aqui

Pratica-se o tráfico e/ou exploração na forma que, todos concordam, ser a mais vil de todas: a usar crianças.  - aqui
A salientar que todas as oportunidades são aproveitadas para fazer das crianças novas vítimas, como nos alerta a UNICEF:
"Desde o princípio do ano, não passou uma única semana sem haver relatos de pessoas... que atravessam o Mediterrâneo...As crianças fazem cada vez mais parte desse êxodo... os perigos que todas essas crianças enfrentam antes, durante e depois dessas travessias são incomensuráveis ... e estão vulneráveis a abusos e exploração."  - aqui

* Helena de Gubernatis, Unicef Portugal - tel. +351 21 317 75 13  -  hgubernatis@unicef.pt


06/06/15

Meu grito



Quero subir
à mais alta montanha e,
lá do píncaro,
estender minha voz
até que se ouça
nos confins do mundo.
Quero gritar,
gritar o mais alto
que a força me permitir.
Soltar minha dor,
deixá-la ir dizer
ao céu
o quão grande ela é,
o quanto
que me deixou sofrer.

Tu, céu,
quando vires o sol
a deitar-se
sobre o horizonte,
essa linha de seda
que teceste
para mostrar
ao Homem
que não te haveria
de alcançar,
lembra-te que
também eu
deito-me todos os dias,
em desiludida agonia,
sobre as mágoas
que me deixaste.


http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Grito_%28pintura%29#/media/File:The_Scream.jpg

E então, em agonia, veio-me à memória a famosa pintura...

O Grito (Skrik) é uma série de quatro pinturas expressionistas, sendo o original de 1893, do pintor norueguês Edvard Munch.
A fonte de inspiração de Munch advém de sua própria experiência pessoal de vida e de seu estado de espírito, o que não há de surpreender a muitos, digo eu, pois considero que a obra de um artista está intrinsecamente ligada ao seu estado de espírito.
Segundo seus próprios registos, a obra terá nascido duma experiência  quando passeava com dois amigos durante um pôr-do-sol e, ao observar o céu, viu "línguas de fogo e sangue sobre o fiorde azul escuro" - enquanto os amigos continuaram a caminhar, o artista permaneceu imóvel, a tremer de ansiedade, perante o que seus olhos conseguiam distinguir nas luzes de cor a envolver toda a natureza ao redor: "sentia o grito infinito da natureza".

A grandeza desta pintura reside na busca do artista em apresentar a visão do mundo por parte de quem sofre, que toda a natureza distorcida/contorcida tal e qual a sua própria dor.

Foi exposto pela primeira vez em 1903 como parte duma série intitulada "O Amor" que reproduz as várias fases do amor, desde o encantamento à ruptura - "O Grito" pretende representar a angústia da última fase.