30/04/16

A noite desnuda





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Esta noite,
no céu, que havia de ser perfeito, não há estrelas:
cansaram-se da monotonia,
foram brilhar do outro lado
do breu.
O luar não veio, adormeceu antes da hora.
Há quem diga que amanhã também não será dia,
porque o sol recolheu os raios e foi embora.








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28/04/16

Sorri, ainda que...

 
Porque dizem que o sorriso faz bem ao coração, engana a lágrima e alimenta a alma, é com Djavan que a mensagem abre, para que saibamos sorrir, mesmo em dia cinzento, ainda que a dor torture e os ombros gritem o cansaço.
E já que é Dia do Sorriso



Esta é a versão em Português, de autoria do compositor brasileiro João de Barro (Braguinha) que, muitos anos mais tarde, foi regravada por Djavan. Esta versão tem um poema lindo, que não fica atrás do original.
O que muitos, das gerações mais novas, não sabem, é que esta música, das mais famosas de todos os tempos, começou por ser apenas uma doce melodia, criada por Chaplin (também conhecido como Carlitos ou Charlot) em 1936 para um filme seu, que, já há oitenta anos e, atrás de uma comédia-sem-palavras foi sua voz para criticar a ditadura, a revolução industrial e o capitalismo que maltratam e mecanizam o homem.
A música, somente em 1954, viria a receber a letra, pelas mãos de John Turner e Geoffrey Parsons. Teve versão em várias línguas, até em Esperanto.

Foi cantada por todo o mundo, por algumas das mais famosas vozes.
E era a música preferida de Michael Jackson, tendo, inclusive, sido cantada por seu irmão na cerimónia de seu funeral.

Curiosamente, este "Smile", que nos manda sorrir, apesar de todas as dificuldades, tem um quê de melancolia na sua melodia.

* Veja se reconhece esta voz que manda sorrir...





Smile

Smile, though your heart is aching
Smile, even though it's breaking
When there are clouds in the sky
You'll get by...

If you smile
With your fear and sorrow
Smile and maybe tomorrow
You'll see the sun come shining through, for you

Light, up your face with gladness
Hide, every trace of sadness
Although a tear may be ever so near
That's the time you must keep on trying
Smile, what's the use of crying?
You'll find that life is still worthwhile
If you'll just smile

That's the time you must keep on trying
Smile, what's the use of crying?
You'll find that life is still worthwhile
If you'll just smile.




19/04/16

O tempo em fatias - segundo uma amiga


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Hoje, dia de tempo cinzento, tão adequado a fermentar ainda mais, a melancolia que se abate sobre o meu ser, o espírito acorda com vontade de deitar, pedindo ao corpo que se encolha em hibernação, à espera que o tempo passe e, chegue enfim, boa alvorada.




Mas, o blogue também é uma janela de luz, que não vem do sol, mas sim de todos os amigos que nos lêem, às vezes em silêncio, sem se manifestarem, outras vezes, também deixando-nos sua voz.
Quando abro a caixa de comentários da postagem anterior, acerca do “Tempo”, tenho à minha espera um comentário, dentre tantos maravilhosos, que me chama especial atenção e, que ele próprio poderia ser postagem, não só pela dissertação da sua autora (a amiga Emília Pinto, do blog “Começar de Novo” - link do blogue) como também pela citação que faz.
Por isso e por achar que os demais amigos mereciam conhecer seu texto, reproduzo a seguir:




«Ai o tempo, esse senhor tão gentil, dizes tu, Carmem. Dizemos muitas vezes que ele é o nosso melhor amigo...ajuda a cicatrizar feridas, a amenizar dores, a parar tempo do aqui e agora e sorrirmos com algo belo que acaba por nos acontecer. Ele passa a seu tempo, no seu ritmo, mas dá-se por completo a nós, permitindo que façamos dele o que quisermos por quanto tempo quisermos e da maneira que desejarmos. Não podemos dizer que não é gentil. O problema é que nós nem sempre sabemos que o tempo nos pertence e não o aproveitamos com tempo, devagar, sem correrias. É certo que nem sempre o sabemos fazer e mais certo ainda é que no tempo manda a vida e essa vida controla-nos e muito. Mas, chega um tempo em que, apesar de tudo descair e o corpo ficar mais frágil, temos mais tempo para saborear cada instante desse tempo. Claro que temos menos tempo de caminhada, mas o que temos é todo nosso, sem necessidade de o repartir e com muito mais experiência para saber a qual instante deste tempo devemos dar prioridade. . Há um poema que sempre conheci como sendo de Carlos Drummond de Andrade, mas parece que não é e que gostaria de aqui deixar, se me permitires. Bem... aqui vai:



CORTAR O TEMPO


Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez
com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para adiante vai ser diferente...


de: Roberto Pompeu de Toledo 
(segundo li na net )




Acho interessante este cortar o tempo em fatias. Não precisamos de o cortar em anos, meses ou até semanas; podemos cortar o tempo que ainda temos em fatias mais fininhas e a cada amanhecer saborear uma delas, deixando a outra para o novo começar se ainda formos a tempo. Apreciaremos cada fatia com mais vagar, com mais tempo, com mais sabor.»



Emília




14/04/16

O tempo, tão gentil




O tempo,

esse senhor que não detém grande predicado, deixou-te, na sua passagem, sem embrulho nem laço, que tudo serve ao embaraço, a quezília com a gravidade que impera sobre teu corpo e ordena que tudo desça um andar:

descem os sonhos em cheia catadupa, a tropeçarem uns nos outros na ausência das concretizações, alheios às querenças, soterrados pelo marasmo dos dias atolados de prioridades;

descem os ombros que outrora ergueram o mundo, suportaram a faina e carregaram os filhos, agora caídos na leveza do nada;

descem os seios que aconchegaram o bater de corações e alimentaram gerações, agora tombados no desquerer;

desce o nariz que apontou ao céu, que não lhe apagou as certezas, que não lhe retirou o garbo, agora derrubado pela descrença;

descem os lábios que abriram sorrisos, cantaram vitórias, encerraram segredos e agora descem em trilhos vincados pelas respostas caladas, injúrias sofridas e cantigas esquecidas;

desce tua própria vida, no tempo perdida… assim, meio que descaída…











08/04/16

A palavra que fala






A palavra falada que, às vezes, o vento leva mas a memória traz de volta, se escrita, ultrapassa fronteiras e viaja no tempo, para lá da eternidade.
A palavra, essa prodigiosa criação sem dono, guarda todo poder do mundo e escreve o destino do homem.
Tolo inocente o que ignora a pujança da palavra, ainda que sussurrada.

A palavra tem em si todos os significados: 
dá nome à criatura,
dita a lei,
desbarata imbróglios
e revela intenções.

A palavra, quando quer, destrona a sintaxe, troca-lhe as voltas e mantém-se firme no argumento.
Vezes há em que ganha vida própria: questiona, aceita ou discorda, negando-se a conjugar verbo alheio.

É obreira da magnanimidade e da maledicência e, se a palavra bem medida não assina o erro, aquela proferida no calor da forja corre o risco de incendiar o desatino.
E então:
grita;
esbofeteia;
semeia discórdia, qual vento, por terra arada;
atiça ódios;
inflige dor;
comanda o míssil e envia o silêncio sepulcral.

Mas é também a palavra, a doce apaziguadora do desassossego.
Nasce, qual água cristalina, da boca de poetas.
Se trôpega, mastiga emoções. Mas se colhida do esplendor do sentimento, será flecha certeira em coração empedernido e, venturosa, pedirá a Deus que dos céus desça à terra para espalhar a graça entre seu povo.
Devolverá a fagulha de esperança ao suicida; confortará o enfermo; edificará relações!
Será fermento a levedar generosidades e fecundará desejos, pois que é a génese da vida que povoa desertos, o advérbio que transforma a insensatez e a que adjectiva o futuro.
A palavra acertada desfralda a vela, unifica vontades e, com a excelência de sua magia, arranca da inércia o fraco e restitui o rubro sangue pulsante às guelras dos que temiam já não conseguir empunhar o pendão da glória. Então, chamará mais palavras a se agruparem em coro e a darem o mote para que se pronuncie a revolta dos corações.